sábado, 28 de janeiro de 2012

Cantores italianos: Domenico Modugno

Artista multifuncional por excelência, Domenico Modugno conquistou a Itália e o mundo com suas músicas inovadoras e seu charme galanteador. Impossível não conhecer os famosos versos da música que o levou ao sucesso nos anos de 1950 e que o intitulou Mr. Volare (Senhor/Seu Volare) nos EUA.


Domenico Modugno nasceu no dia 9 de janeiro de 1928 em Polignano a Mare, cidade situada na província de Bari, na região da Puglia, sul da Itália. Aos 7 anos de idade, a família Modugno vai para a cidade de San Pietro Vernotico, província de Brindisi, também situada na Puglia, onde Domenico viveu boa parte de sua infância e adolescência. Graças aos ensinamentos do pai, o adolescente Modugno aprende a tocar violão e acordeom, aproximando-se cada vez mais do mundo musical. Em 1945, Domenico Modugno compôs suas primeiras músicas, embora nunca as tenha gravado.

Em 1947, às escondidas do pai, Domenico Modugno vai para Turim, no norte da Itália, em busca de melhores condições e trabalho. É convocado para o serviço militar em Bolonha e, após concluí-lo, volta em 1949 para sua San Pietro Vernotico. Deixa seu inconfundível bigodinho crescer e começa a se apresentar em festas do interior ou improvisando serenatas às jovens moças de sua cidade, conquistando não só as meninas mas a fama de mulherengo.

Como acontece a muitos jovens, a vida interiorana começa a fica monótona e então decide voltar a Turim e, de lá, a Roma, matriculando-se no Centro Sperimentale di Cinematografia, antiga e renomada escola de cinema na Itália. Ganha uma bolsa de estudos para frequentar o curso de atores e conhece sua futura esposa, Franca Gandolfi, siciliana e também aspirante atriz. Após apresentações noturnas como cantor no Circulo Artistico em Roma, Modugno finalmente atua na peça teatral Il borghese gentiluomo (1952) e, sucessivamente, nos filmes Anni facili (1953) e no episódio La giara do filme Questa è la vita (1954). 

Domenico queria ser ator, embora continuasse a se apresentar como cantor. Francesco De Robertis o convida para participar de seu filme, Carica eroica (1952), no papel de um soldado que tinha como função adormentar um menino. Canta em dialeto salentino Ninna Nanna (conhecida também por Ulìe ci tene ulìe), típica canção de ninar de San Pietro, abrindo, assim, as portas para as rádios. Apresenta diversos programas radiofônicos na RAI Radio 2, propondo músicas que seriam gravadas mais tarde. Foi convidado especial de um de seus programas de rádio Frank Sinatra, despertando os interesses dos diretores da RAI Radio.

No final de 1953, Domenico Modugno fecha contrato com a gravadora RCA Italiana, gravando os primeiros discos compostos por músicas em dialeto salentino e siciliano. Sua fonte de inspiração é a cultura popular das duas regiões, Puglia e Sicília, cujos temas são pescadores, mineiros, paisagens rurais e personagens pitorescos de sua saudosa San PietroVernotico. Foi nesta época que gravou a famosa Vecchio frack, que encontra problemas com a censura por causa de alguns versos considerados imoraiss para a época por aludir a um contato físico ("ad un attimo d'amore che mai più ritornerà", em português "a um momento de amor que nunca mais voltarà", foi substituído por "ad un abito da sposa, primo ed ultimo suo amor", que em português fica "a um vestido de noiva, primeiro e último amor seu"). 



Em 1955 grava seu primeiro LP, I successi di Domenico Modugno I que logo teve sua segunda edição, I successi di Domenico Modugno II. Algumas de suas antigas composições tiveram que ser registradas na SIAE (Società Italiana degli Autori ed Editori), entidade pública que cuida dos direitos de autoria, com co-autores já inscritos em tal sociedade, pois Domenico Modugno era classificado como "melodista" e não compositor. La donna riccia foi um exemplo de música que teve a co-autoria (e parte do dinheiro arrecadado com ela) de Romagnoli, embora este nunca tenha composto uma nota. Para sorte de Modugno, uma comissão se reuniu e decidiu que ele mesmo poderia registrar suas músicas na SIAE como único autor.

O novo contrato com a gravadora Fonit Cetra possibilitou a participação, como autor, de Domenico Modugno no Festival de San Remo de 1956. Sua música Musetto foi interpretada por Gianni Marzocchi e se classificou em 8º lugar. Nessa mesma época grava dois discos, Domenico Modugno e la sua chitarra - Un poeta un pittore un musicistaDomenico Modugno e la sua chitarra nº2 - Un poeta un pittore un musicista, e começa a escrever músicas em dialeto napolitano com um amigo conhecido na escola de cinema em Roma, Riccardo Pazzaglia. Lazzarella nasce com essa nova parceria e foi cantada, em dupla com Aurelio Fierro, no Festival di Napoli de 1957. A música e o disco, Strada 'nfosa, inspirada em um camelô de Paris (Domenico Modugno fez uma turnê na França) durante um dia chuvoso, fizeram grande sucesso.

No Festival de San Remo de 1958, Modugno e Johnny Dorelli se classificam triunfalmente com a música Nel blu dipinto di blu, mais conhecida como Volare. Escrita com Franco Migliacci, o mais novo sucesso da dupla ganha o mundo e se torna uma das músicas que mais simbolizam a Itália. Depois de San Remo, o novo sucesso italiano ficou classificado em 3º lugar no Festival Eurovisão da Canção, além de ganhar três Grammys e três discos de ouro como melhor música, disco e cantor. Começa aí sua popularidade, com inumeráveis turnês pelas Américas e diversos convites para participar de programas televisivos.



No ano seguinte, Modugno e Dino Verdi escrevem Piove, mais conhecida como Ciao ciao bambina, mais um sucesso conquistado no Festival de San Remo e regravada por tantos outros cantores italianos e estrangeiros. As vitórias em San Remo seguem em 1962 com Addio... addio... (Modugno e Claudio Villa) e em 1966 com Dio come ti amo (Modugno e a jovem Gigliola Cinquetti).




Em 1968, Modugno participa do Festival de San Remo com a música Meraviglioso que foi, porém, eliminada. Quarenta anos mais tarde, em 2008, ganha sucesso com uma versão mais moderna do grupo italiano Negramaro.






Na década de 1970 continua seu sucesso e surgem novos trabalhos, como La lontananza (escrita com Enrica Bonaccorti), La gabbia, Come stai, Tuta blu e Un calcio alla città, além de discos como Cavallo bianco, Tutto Modugno e Dal vivo alla Bussoladomani, um álbum ao vivo durante um show em Viareggio, província de Lucca, na Toscana.




Um derrame cerebral em 1984 afastou Domenico Modugno por um bom tempo do mundo artístico, o que o possibilitou a uma maior dedicação à política. Simpatizando-se com as atividades do Partido Radical a favor dos portadores de deficiência, candidata-se às eleições políticas em 1987, sendo eleito deputado. Chega a ocupar um lugar no Senado italiano, dedicando-se ao tema dos direitos aos portadores de deficiência e da tutela dos artistas. Batalhou para o fechamento do hospital psiquiátrico de Agrigento, na Sicília, onde os pacientes eram mantidos em condições desumanas, dedicando-lhes um show, o primeiro após seu derrame.


A partir da década de 1990 volta aos palcos. Em 1991, embora ainda um pouco debilitado, apresentou-se nas Termas de Caracalla, em Roma. No ano seguinte, é a vez de Turim, onde foi recebido com muita emoção pelos fãs que lotaram a Praça San Carlo. Em agosto de 1993 voltou a sua terra natal, Polignano a Mare, para seu último show e para "voltar às pazes" com seus conterrâneos depois da polêmica sobre seu verdadeiro lugar de origem (por questões de marketing, o cantor teve que dizer que era siciliano e não originário da Puglia). Foi uma manifestação que durou três dias e teve toda uma encenação profissional que invocava elementos da cultura local e de um filme do qual participou, Il sorpasso.


No dia 6 de agosto de 1994, com apenas 66 anos, Domenico Modugno deixa a Itália órfã de um de seus mais brilhantes artistas e uma rica herança cultural que marcou a história não só da música italiana. Foi redescoberto durante a década de 2000 por diversos cantores italianos e antigos colaboradores, regravando sucessos de Modugno. Em 2009, na cidade onde nasceu, foi erguida uma estátua em sua homenagem, idealizada e produzida pelo escultor argentino Hermann Mejer.


Estátua de Domenico Modugno em Polignano a Mare, Bari

Além de cantor, Domenico Modugno participou e atuou em diversos espetáculos teatrais, no cinema e na televisão como ator. Seus principais trabalhos foram:
1960:  ao lado de uma nova dupla de cômicos sicilianos, Franco Franchi e Ciccio Ingrassia, atua no filme Appuntamento a Ischia, dirigido por Mario Mattoli.
1961: depois de alguns meses inativo devido a uma fratura na perna, debuta como protagonista na comédia musical Rinaldo in campo, de Garinei e Giovannini. Além de sua atuação, participa também da composição de todas as músicas do espetáculo. Ainda no mesmo ano, em ocasião das comemorações do centenário da Unficação Italiana, apresenta-se no teatro Alfieri de Turim com a peça Rinaldo Dragonera, cujo tema principal é ligado aos acontecimentos que levaram à união da Itália.
1962: participa como ator e compositor das músicas da comédia teatral Tommaso d'Amalfi, de Eduardo de Filippo.
1963: foi autor-ator no filme autobiográfico Tutto è musica.
1965: protagonista da minissérie Scaramouche, de Daniele D'Anza. A música de abertura, L'avventura, escrita e cantada pelo próprio Modugno, tornou-se um de seus grandes sucessos.


1969: atuou na comédia musical Mi è cascata una ragazza nel piatto.
1973-1976: foi Mackier Messer em L'Opera da tre soldi (A Ópera dos Três Vinténs), dos alemães Bertolt Brecht e Kurt Weill, dirigida por Giorgio Strehler


Modugno também colaborou com grandes nomes da literatura italiana. Musicou as poesias de Salvatore Quasimodo, Ora che sale il giorno e Le morte chitarre. Pier Paolo Pasolini escreveu para Modugno Che cosa sono le nuvole e o convidou para participar dos filmes Uccellacci e uccellini (1966) e Capriccio all'italiana (1967).



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